quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Anoitecer" de Carlos Drummond de Andrade

Poema da época da Segunda Guerra Mundial, tema do meu trabalho de final de semestre na disciplina "Introdução aos Estudos Literários I" com o professor Samuel de Vasconcelos Titan Jr.

Me identifiquei rapidamente ao poema, já que sou daquelas pessoas que adoram o dia. Tenho aversão à essa tal hora do anoitecer, do crepúsculo. Hora que engana nossos olhos. Hora da tristeza nas grandes cidades, como Drummond belamente nos conta! Viva a poesia...





Anoitecer
(Carlos Drummond de Andrade)

É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo. 




Bom resto de semana para todos!
Beijos,
Isa.

Um comentário:

  1. É uma hora muito peculiar, o crepúsculo. Tudo acontece tão rápido, realmente engana os olhos e a alma. No inverno é especialmente triste ver o sol indo embora. É mais uma longa noite que vem, é o pouco de calor que se vai, é a tristeza que vem.
    Até que amanhece mais um dia e existe alívio, até o próximo crepúsculo...
    Beijos Isa!

    ResponderExcluir